segunda-feira , 14 de abril 2025

pesquisa coloca petistas e antipetistas no divã

Bolsonaristas convictos têm visão mais exteriotipada e negativa do grupo adversário

Em novo relatório do Monitor do Debate Político (MDP), os pesquisadores foram ao cerne da polarização que divide o Brasil há cerca de uma década, com a divisão entre petistas e lulistas de um lado, e por outro lado, antipetistas e bolsonaritas. Em meio à disputa, tida como acirrada, os eleitores flutuantes, mais desenganados, descrentes com a política tradicional.

No jornal TVT News Primeira Edição desta quinta-feira (10), o diretor do MDP, João Feres Jr., comentou os resultados da última rodada, quando petistas e bolsonaristas – e também o grupo do meio – foram colocados no divã – desafiados a atribuírem a si próprios características e condições típicas que definem o grupo a que se identificam e, ao mesmo, a estabelecerem o mesmo perfil aos grupo opostos.

Ele afirma que especialmente os “bolsonaristas convictos” têm uma visão “muito exteriotipada e bastante negativa” do grupo adversário, no caso, os petistas. Lulodescontentes e lulistas, por sua vez, tendem a evitar generalização em relação aos seus opositores, ainda que identifiquem o ideal conservador. Além disso, são mais críticos com os rumos do próprio grupo político.

“Tem toda uma ideia de que a polarização é afetiva, baseada em sentimentos, irracionais inclusive, dos eleitores em relação ao grupo opositor. Então as pessoas cada vez mais odeiam umas às outras, têm um sentimento de repulsa”, comentou o diretor do MDP, em entrevista a Talita Galli, apresentadora do TVT News.

“Quando a gente pergunta sobre a percepção que os bolsonaristas têm dos petistas, você que são só os bolsonaristas convictos que, na verdade, têm uma percepção muito estereotipada e bastante negativa dos petistas. ‘Ah, gente dependente de programas sociais, artista, doutrinadores, professores, membro de minorias LGBT, que são manipuláveis, pregruiçosos, ou interessados em obter alguma vantagem com a política’”, explicou.

“Quando você vai para os bolsonaristas moderados, eles também associam os petistas a pessoas de classe mais baixa, que obtiveram vantagens por meio dos programas sociais, mas eles têm uma visão um pouco mais tolerante”, acrescenta.

“Os flutuantes também associam os petistas às classes baixas, só que destacam que pertencem a minorias, que sofrem preconceitos. Então eles têm uma certa empatia. E os antipetistas? São conservadores, evangélicos”, segundo eles.

“Os lulodescontes e lulistas, eles não são tão esteriotipantes assim. Ou seja, eles não vêm o outro lado… eles rejeitaram generalizações, na maioria. Não é geral, tem gente de todo tipo que não gosta do PT ou que é bolsonarista, mas não deixaram de falar que tem um padrão conservador, muitos evangélicos, desprezo pelos pobres. Mas eles fizeram esse tipo de ressalva, ‘não vamos generalizar’”, afirma Feres Jr.

Radiografia da polarização: detalhes da pesquisa

As pesquisas do Monitor do Debate Público (MDP) – ex-Monitor da Extrema Direita (MED) – é realizada por meio de grupos focais de operação contínua no WhatsApp, com participantes selecionados e um moderador profissional. Apesar dos dois grandes grupos em disputa, os participantes foram divididos cinco grupos focais.

  • G1 – Bolsonaristas Convictos: votaram em Bolsonaro no segundo turno, desaprovam o atual governo, aprovam as invasões de 08/01, acreditam que o ex-presidente é perseguido pelas instituições e não assistem à Rede Globo.
  • G2 – Bolsonaristas Moderados: votaram em Bolsonaro no segundo turno, desaprovam o atual governo, desaprovam as invasões de 08/01, não há consenso sobre o ex-presidente ser perseguido pelas instituições e não rejeitam a Rede Globo.
  • G3 – Preferências Flutuantes: votaram Branco/Nulo no segundo turno, mas em outros candidatos no primeiro turno. Os demais critérios são diversos.
  • G4 – Lulodescontentes: votaram em Lula no segundo turno, mas reprovam a atual gestão. Os demais critérios são diversos.
  • G5 – Lulistas – votaram em Lula no segundo turno e aprovam a atual gestão. Os demais critérios são diversos.

Petistas segundos os eleitores da direita

De acordo com a pesquisa qualitativa, bolsonaristas convictos e moderados demonstraram uma percepção marcadamente homogênea e estigmatizada sobre os petistas. São vistos como pertencentes às classes baixa e média-baixa, muitas vezes dependentes de programas sociais como o Bolsa Família. Funcionários públicos, sindicalistas e pessoas consideradas como “não-produtivas” são recorrentes na descrição. Ou ainda, o petista seria alguém que “não quer trabalhar”, “vive de benefícios” ou “ganha fácil”.

Petistas são pessoas que querem ganhar fácil sem ter que trabalhar e tomar o que poderem de quem batalhou muito para ter, como os sem terras ,por exemplo.” (G2, 54 anos, aposentado, PB)”, afirma um dos participantes da pesquisa.

São Associados a baixa escolaridade ou, paradoxalmente, a setores universitários tidos como “doutrinadores”, como professores de história e sociologia. Universitários de faculdades públicas, especialmente de humanas, são vistos como doutrinados e alienados. Artistas, professores e militantes sociais são considerados oportunistas que se beneficiam de políticas públicas (como a Lei Rouanet).

Há forte ligação com uma suposta ameaça aos valores tradicionais, como família, moral cristã e religiosidade. Religiões de matriz africana, ateísmo e posições progressistas sobre drogas, sexualidade e aborto são vistos com desconfiança ou hostilidade. O petismo é descrito como anticristão, antifamília e até como comunista.

O PT é descrito como um partido que manipula, doutrina, promove o vitimismo e mantém a população na miséria para garantir votos. E o petismo seria sinônimo de “doutrinação ideológica”, “aparelhamento do Estado” e “corrupção institucionalizada”.

Como a esquerda enxerga os antipetistas

Na perspectiva dos eleitores de esquerda — tanto os lulistas convictos quanto os lulodescontentes — o antipetismo está fortemente associado a camadas sociais mais privilegiadas, a valores conservadores e a uma cultura política marcada pela intolerância e desinformação. Os relatos colhidos nos grupos de pesquisa revelam que, para esses entrevistados, o antipetista típico é menos um crítico racional do PT e mais alguém movido por ideologia ou preconceito.

O antipetista é descrito, em sua maioria, como branco, evangélico e pertencente às classes A e B, embora também se reconheça o crescimento desse sentimento entre a classe média assalariada, servidores públicos e pequenos empresários.

Sul e Sudeste são as regiões mais associadas ao antipetismo. Há destaque para agricultores, comerciantes e empreendedores, especialmente aqueles insatisfeitos com políticas econômicas ou com dificuldades de acesso ao crédito público.

É recorrente a imagem do antipetista como homem, conservador e agressivo no debate político, com forte inclinação à defesa da autoridade e da ordem. Muitos são percebidos como consumidores de fake news, principalmente via WhatsApp.

Para os lulistas e lulodescontentes, o antipetismo tem raízes menos na experiência concreta com governos do PT e mais em narrativas construídas por desinformação, preconceito e moralismo religioso. O fenômeno é visto como uma expressão de uma cultura política fechada ao diálogo, marcada por ódio e intolerância, e alimentada por interesses de uma elite conservadora que teme a ascensão das classes populares.

Pude notar algumas características dessas pessoas principalmente durante o tempo em que os apoiadores do Bolsonaro acamparam na frente dos quartéis aqui na minha cidade o perfil que eu pude observar eram de pessoas em sua grande maioria evangélicas, brancas e do sexo masculino vindos de uma classe social confortável, como por exemplo donos de grandes estabelecimentos, empresários… E antipetistas ao meu ver são aquelas pessoas que tem raiva e aversão ao partido, que consomem muitas matérias e notícias fakes que são espalhadas com o intuito de gerar uma comoção negativa encima do partido.” (G5, 28 anos, auxiliar administrativo , AM)

BolsonaristasPolarização
Bolsonaristas consomem fake news, segundo petistas. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Flutuantes

Os eleitores flutuantes adotaram uma postura mais equilibrada, ainda que alguns estereótipos tenham aparecido. identificam os petistas como majoritariamente das classes C, D e E, beneficiários de programas sociais. Seriam principalmente mulheres, jovens universitários, moradores de periferias e grupos minoritários (LGBTQIA+, negros, indígenas). E ainda seriam movidos por gratidão por políticas assistenciais e alinhamento ideológico com pautas de inclusão e justiça social. São vistos por alguns como dependentes do Estado e desinteressados em buscar autonomia financeira.

Já os antipetistas, segundo os flutuantes, seriam predominância das classes A e B, especialmente no Sul e Sudeste, homens, brancos, mais velhos (50+), evangélicos, empresários ou empreendedores. Fariam a defesa da meritocracia, valores conservadores e críticas às políticas econômicas do PT. E teriam percepção marcada por preconceito e intolerância a minorias ou mudanças sociais.

Antipetistas segundo eles mesmos

Para bolsonaristas convictos e moderados, o antipetismo não é apenas uma oposição política, mas uma expressão de identidade moral, religiosa e ideológica. Ser antipetista é, sobretudo, um posicionamento ético e civilizacional: trata-se de valorizar a família tradicional, a fé cristã (principalmente evangélica e católica), a ordem, a moral e a meritocracia. O antipetista se vê como alguém honesto, trabalhador, patriota, defensor dos bons costumes e da liberdade de expressão.

Esse grupo rejeita com veemência as bandeiras da esquerda, associadas ao PT, como o socialismo, a descriminalização das drogas, a legalização do aborto, as cotas raciais e a ideologia de gênero. Há também um discurso de “despertar”: o antipetista seria alguém que “acordou”, que vê a “verdade” por trás do discurso petista, e que resiste àquilo que identificam como doutrinação ou manipulação ideológica.

Há uma construção de superioridade moral e intelectual, além de uma crítica ao suposto oportunismo dos eleitores petistas, vistos como dependentes dos programas sociais e sem senso crítico. Para esses grupos, antipetismo é quase sinônimo de independência, mérito, fé e caráter.

“No meu ponto vista, é porque o pessoal da direita, valoriza a família tradicional, valoriza a igreja católica e evangélicos, tem orgulho de levantar a bandeira do nosso País, afinal a deles são “VERMELHA”, isso já diferencia e muito, sem falar que o povo não acredita no socialismo, isso difere bastante. Por outro lado; no que se refere ser tipicamente antipetista é você não apoiar; a corrupção, não defender bandidos, não defender o comunismo, não defender invasão de terras, por que são pontos que deixa uma sociedade frágil, muita coisa errada para um partido só.” (G1, 36 anos, assistente jurídico, BA)

Petistas por eles mesmos

Entre os lulistas e lulodescontentes, o petista típico é visto como alguém comprometido com justiça social, inclusão e combate ao preconceito. Para esses grupos, ser petista vai além do apoio a um partido: é uma posição ideológica associada à defesa dos direitos humanos, da igualdade de oportunidades e da valorização da diversidade.

Houve o reconhecimento de que o petismo mudou ao longo do tempo. Deixou de ser apenas uma expressão da classe trabalhadora urbana ou rural para se tornar um campo mais amplo, que hoje abriga desde beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família até setores de classe média e alta com perfil progressista, além de pessoas ligadas à cultura, educação e movimentos sociais.

As características mais citadas incluem uma mentalidade mais liberal, aberta à diversidade sexual, racial e de gênero, além de uma forte oposição ao conservadorismo associado ao bolsonarismo. A imagem do petista envolve também o engajamento político e o apoio a políticas públicas de redistribuição de renda e redução da desigualdade.

Apesar disso, surgiram críticas pontuais — como a falta de renovação de lideranças no partido, a centralidade excessiva de Lula e certa dificuldade em dialogar com quem pensa diferente. Ainda assim, o sentimento predominante é de gratidão por conquistas sociais e de identificação com uma visão de país mais igualitário e justo.

Acho que são pessoas mais liberais,com idades 30 a mais de 60 que foram criados achando o partido dos trabalhadores, realmente trabalhavam em favor dos menos favorecidos.Sem religião específica.Ser tipicamente petista eu acho que são pessoas que acreditam no social,na igualdade para todos. Ajuda ao menos favorecidos socialmente.” (G4, 49 anos, artesã , CE)

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Petismo mudou ao longo do tempo, dizem apoiadores. Foto: Anselmo Cunha/PT

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