sábado , 12 de abril 2025

Milei entrega Argentina ao FMI enquanto vê popularidade cair

Com popularidade em queda, Milei aposta em ceder poder ao FMI em troca de dinheiro para tentar reverter resultados econômicos desastrosos

Na Argentina do presidente de extrema direita Javier Milei, a promessa de soberania econômica foi substituída por um alinhamento incondicional ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e, consequentemente, aos interesses dos Estados Unidos. Em apenas 16 meses de governo, Milei não só abandonou seu plano econômico original, como entregou o controle do futuro econômico do país aos credores internacionais. Agora, parte das decisões do país pertence ao FMI — e, sobretudo, ao Departamento do Tesouro norte-americano. Entenda na TVT News.

Dois eventos reforçam esse diagnóstico. O primeiro acontece hoje (11). O FMI decidirá quanto dos US$ 20 bilhões de crédito prometido estará efetivamente à disposição do país latino-americano. A quantia determinará o poder de fogo do governo para conter o caos econômico, particularmente a disparada do dólar, e tentar estabilizar o mercado cambial. O segundo movimento é ainda mais simbólico: na próxima segunda-feira, desembarca em Buenos Aires o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent — um nome diretamente ligado ao círculo de confiança de Donald Trump.

O respaldo norte-americano, no entanto, não consegue acalmar os mercados: o dólar continua em alta, o risco país segue subindo, enquanto a Bolsa e os títulos públicos mergulham no vermelho. A expectativa de uma nova depreciação cambial paira no ar. O próprio governo já deixou escapar que, a partir de segunda-feira, pode adotar um novo regime de câmbio com bandas de flutuação e intervenção parcial — uma medida improvisada que revela a fragilidade do plano vigente.

Soberania em xeque

Enquanto o governo Milei adota uma postura de alinhamento incondicional aos Estados Unidos, o presidente Donald Trump, de quem Milei é seguidor incondicional, segue sua guerra tarifária contra tudo e todos. Claro que a China é a mais impactada, com taxas mútuas que ultrapassam o 100% e, virtualmente, paralisam as relações comerciais entre as duas maiores economias do mundo. Contudo, mesmo a Argentina foi taxada pelo governo Trump. E o resultado foi desastroso. A volátil economia da Argentina viu o mercado de ações despencar e as incertezas crescerem.

Mas o apoio de Milei a Trump não cessa com a realidade. A 9ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) ocorreu nesta semana, em Honduras. Lá, líderes de 30 nações assinaram a Declaração de Tegucigalpa. A Argentina negou concordância com o documento. E negou especificamente em um ponto que fala sobre a soberania das nações.

“Respeito à autodeterminação dos povos, na não ingerência nos assuntos internos, na soberania e na integridade territorial.” Assim diz trecho do parágrafo rechaçado pelo governo Milei.

Popularidade de Milei

Enquanto isso, o desgaste político de Milei cresce. Uma pesquisa nacional da consultora Analogías, coordenada por Marina Acosta, revelou um cenário alarmante para o presidente. A base de apoio ao governo caiu cinco pontos percentuais desde fevereiro, e agora há mais argentinos que desaprovam do que aprovam a gestão Milei. 61% da população rejeita a decisão de contrair mais dívidas com o FMI.

A sondagem, que entrevistou 2.854 pessoas em todo o país, revelou que:

  • 53% acreditam que a inflação não está caindo;
  • 64% dizem que a pobreza segue em alta;
  • 87,3% exigem uma recomposição urgente das aposentadorias;
  • 61,4% têm medo de perder seus empregos;
  • 49,5% acham que a situação econômica vai piorar nos próximos dois anos.

Esses números demonstram um esvaziamento de expectativas, especialmente entre mulheres, pessoas com ensino superior e trabalhadores entre 30 e 45 anos — grupos que costumavam dar um voto de confiança ao governo.

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Aposentados foram reprimidos com violência pela polícia de Milei durante protestos. Foto: ITFAmericas/X

Greves e resistência sindical

No plano social, o governo enfrenta uma crescente onda de resistência. A Confederação Geral do Trabalho (CGT), principal central sindical do país, declarou que o paro geral desta semana, uma grande greve contra a gestão Milei. “Foi um sucesso retumbante”, declarou o sindicalista Héctor Daer, um dos líderes da CGT. Ele destacou, ainda, a massiva mobilização do dia anterior, 9 de abril, em apoio aos aposentados, que lotaram a praça diante do Congresso Nacional.

A paralisação atingiu bancos, repartições públicas, transporte aéreo, marítimo e ferroviário, coleta de lixo e até mesmo o Congresso. Embora os ônibus tenham circulado, a adesão ao movimento foi significativa em diversas províncias — inclusive por parte de setores da UTA, sindicato dos motoristas, que rompeu com sua direção nacional para aderir à greve.

Para os dirigentes da CGT, a visita do enviado de Trump e o novo acordo com o FMI são indícios de que “o pior ainda está por vir”. Segundo Daer, “pedir mais dinheiro para tornar viável o plano econômico é o reconhecimento do seu fracasso”.

Sendo assim, mesmo o entusiasmo inicial de parte da sociedade com o discurso liberal do presidente se desfaz diante da realidade: recessão, miséria crescente, corrupção no caso Libra — um escândalo com criptomoedas que atinge diretamente o mandatário — repressão violenta aos protestos, particularmente de aposentados, e o perecimento crescente da soberania nacional.

Com informações do Página12

Crédito do Matéria

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